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2011-05-13

Sexta-Feira 13



- Não sou supersticioso – dizia. Mas nas sextas-feiras 13 fazia o seguinte: não saía de casa. Entende?
- Vamos que me acontece alguma coisa. Aí eu fico supersticioso.
Para proteger seu racionalismo, não se expunha. Não saía de casa. Não saía nem da cama.
- Telefona para o trabalho. Diz que eu estou gripado.
A mãe ia telefonar.
- E mãe…
- O quê?
- Me traz o café na cama?
A mãe trazia.
Ontem ele pediu para a mãe telefonar. Em vez de gripe, para não desconfiarem, mandou dizer que tinha torcido o pé. No escritório as pessoas comentaram:
- Já notaram? Toda sexta-feira 13 acontece alguma coisa com ele.
- Que azar!
Tomou café, almoçou e jantou na cama. Só levantou duas ou três vezes para ir ao banheiro – com muito cuidado. Dormiu um pouco. Leu um pouco, nada muito arriscado. Só quando o velho relógio da sala, o que imitava o Big Ben, tocou meia-noite ele se levantou, escovou os dentes, tomou banho e se arrumou para sair.
- Onde é que tu vai? – perguntou a mãe.
- Pra vida, coroa. Pra vida.
Encontrou com a turma no bar. Durante a conversa, um dos amigos comentou:
- Ganhamos uma hora de existência.
E o outro comentou:
- Ganhamos, não. Recuperamos. Ele não entendia nada.
- Como? O quê? Que história é essa?
- Acabou o horário de verão. Todos os relógios atrasaram uma hora.
- Quer dizer que ainda é sexta-feira 13?
Um amigo olhou o relógio.
- Por mais… vinte e dois minutos.
Ele saiu correndo do bar. Precisava voltar para casa. Precisava voltar para a…

 Desapareceu num bueiro.
(“Sexta-feira 13” - Luís Fernando Veríssimo)

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